quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Laço escreve ao jornal Expresso

Lemos com muito interesse o vosso artigo “Doentes de cancro vão viajar à força” (3 de Novembro de 2007) e, em particular, a opinião atribuída a Jorge Espírito Santo, no sentido de que uma nova rede oncológica terá um impacto negativo para os doentes oncológicos.

A Laço, Associação de Solidariedade Social, empenhada na luta contra o cancro da mama, considera fundamental aguardar pela publicação das recomendações para a Nova Rede Oncológica antes de as criticar. Não obstante, e uma vez que o assunto está a ser debatido publicamente, é importante salientar alguns factos.

Em Portugal, o cancro da mama é o cancro com mais incidência entre as mulheres, com cerca de 4500 novos casos por ano. Segundo estatísticas disponíveis no Portal da Saúde para Janeiro 2007 – Junho 2007, houve 50 hospitais públicos a tratar o cancro da mama neste período. Mas houve 27 hospitais que operaram menos de 1 mulher com cancro da mama por semana e destes, houve 9 que operaram menos de 1 mulher por mês. Para dar um exemplo, na zona do sul do Tejo, há 4 hospitais a tratar o cancro da mama: Almada, Setúbal, Barreiro e Montijo e dois deles não chegaram a tratar 1 mulher por semana na primeira metade de 2007.

Nenhuma mulher devia aceitar ser operada num hospital com números assim. Mais vale viajar uns quilómetros para receber melhor tratamento. Segundo as exigências da Eusoma (European Society of Breast Cancer Specialists), o cancro da mama devia ser tratado em centros especializados com um mínimo de 150 novos casos por ano e os cirurgiões que operam o cancro da mama deviam fazer um mínimo de 50 operações por ano, quer dizer pelo menos uma por semana.

Está mais que provado em múltiplos estudos internacionais que não só a qualidade da vida das mulheres após o tratamento mas até a sobrevivência estão directamente influenciadas pelo volume de cirurgias feitas no hospital e por cirurgião. Estudos feitos na Inglaterra e nos Estados Unidos indicam que uma mulher operada por um cirurgião especializado tem até 15% mais hipótese de sobreviver cinco anos depois de ser operada.

Excelência neste campo é directamente relacionado com especialização e especialização não é possível com 1 caso por mês ou até menos que isso. Não se trata de pôr em causa um Hospital ou um médico; trata-se, isso sim, de garantir um tratamento especializado, o que implica conhecimentos teóricos e técnica especializada, mas também aplicada diariamente a mulheres que são vítimas desta doença.

A Laço, a pensar sempre e só na saúde das mulheres em Portugal com cancro da mama, considera indispensável a criação de centros de excelência para o tratamento do cancro da mama, organizados regionalmente, com equipas especializadas e multidisciplinares. Assim será possível aumentar a qualidade de vida das mulheres que seguem o tratamento mais adequado, e sobretudo a probabilidade de sua sobrevivência.

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