quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Cientistas procuram redefinir alguns diagnósticos de cancro

Um grupo de especialistas consultores dos principais institutos de investigação americanos, recomendaram alterações na definição de cancro e eliminar esta palavra de alguns diagnósticos comuns como parte de mudanças radicais na abordagem  da detecção e tratamento do cancro.

Imagem The New York Times

As recomendações, de um grupo de trabalho do National Cancer Institute, foram publicadas no dia 29 de Julho, no The Journal of the American Medical Association e dizem, por exemplo, que algumas condições pré-malignas, como a que afeta a mama chamada carcinoma ductal in situ, que muitos médicos concordam não ser cancro, deve ser renomeada para excluir a palavra carcinoma de forma a que os pacientes tenham menos medo e sejam menos propensos a procurar o que podem ser  tratamentos desnecessários potencialmente nocivos que podem incluir a remoção cirúrgica da mama.

O grupo, que inclui alguns dos principais cientistas na investigação do cancro, também sugeriu que muitas lesões detectadas durante os rastreios da mama, próstata, tiróide, pulmão e outros rastreios não devem ser, de todo, classificadas como cancro, mas devem ser sim reclassificadas como IDLE (indolent lesions of epithelial origin ou em português, lesões indolentes de origem epitelial).

Embora seja claro que algumas ou todas as mudanças podem não ocorrer durante anos, se é que ocorrem de todo, e que alguns especialistas vão discordar profundamente com as opiniões do grupo, o relatório de um grupo tão proeminente de cientistas que têm o apoio do National Cancer Institute traz a discussão para um patamar mais elevado e provavelmente irá mudar o debate nacional sobre o cancro, a sua definição, o seu tratamento e futuras pesquisas.

Surgiu no entanto, na mesma data, outro relatório que parece ir em sentido oposto, no que diz respeito ao rastreio para detecção precoce. Há pelo menos três décadas que é dito aos americanos (e acontece o mesmo noutros países) que é melhor para detetar um cancro precocemente, quando este é teoricamente mais curável. Assim, não é tão surpreendente quando um grupo consultivo oficial - United States Preventive Services Task Force - recomenda que os fumadores muito pesados possam realizar uma TAC anual para verificar se há sinais iniciais de cancro do pulmão. É muito mais surpreendente, no entanto, quando um grupo separado de especialistas sugerem que, para vários tipos de cancro - incluindo potenciais cancros do pulmão - exames precoces estão a detetar muitas anomalias que não são perigosas e não devem ser tratadas.

Curiosamente, ambos os grupos que emitiram as suas recomendações podem estar certos.

Em 2010, um grande ensaio clínico descobriu que as TAC (baixas doses de radiação), detectam tumores muito pequenos o que poderia reduzir a mortalidade em 16% entre os pacientes de maior risco de cancro do pulmão por causa de sua idade e histórico de tabagismo.

Então, a questão parece centrar-se no diagnóstico “excessivo” (overdiagnosis) versus diagnóstico precoce que pode salvar vidas.

Neste sentido o grupo que defende a redefinição de alguns diagnósticos de cancro e o "perigo" do diagnóstico excessivo disse que, idealmente, os rastreios devem concentrar-se nos tumores que podem causar danos e que têm mais probabilidade de serem curados se detectados precocemente.
Mas isso não pode ser feito até que os cientistas encontrem a melhor forma de identificar quais são as lesões que são verdadeiramente preocupantes.

As recomendações de ambos os grupos vêm com incertezas e perguntas sem resposta. Isto irá colocar a decisão nos pacientes em colaboração com seus médicos, de forma a optar pela realização ou não do rastreio precoce de vários tipos de cancro e o que fazer com base nas descobertas.

A preocupação de alguns médicos radiologistas na área do cancro da mama é que com algumas condições da mama como o carcinoma ductal in situ não há respostas fáceis. Alguns casos nunca vão avançar enquanto outros podem ser fatais. Para estes o problema não está no nome, está no facto de que não é possível saber quais os casos que vão progredir e quais os que não vão.

O tratamento excessivo (overtreatment) de uma doença possivelmente inocente é definitivamente um problema, mas a solução não é simples. O problema é com a profundidade da compreensão da biologia dessas lesões, e não com o nome.

Ainda, para o presidente do Comissão Médica Consultiva do Susan G. Komen Greater New York City, o cancro da mama continua a representar um grande risco para a saúde das mulheres (...). Não podemos prever quais as lesões vão progredir (a maioria) versus aqueles que são susceptíveis de progredir (um pequeno subconjunto, principalmente em pacientes mais velhos).

É responsabilidade do médico traçar o caminho crítico do tratamento das suas pacientes, com base nas características de cada mulher. A nossa melhor hipótese de conseguir fazê-lo corretamente encontra-se ainda escondida mas está no genoma do tumor.

Artigos originais do The New York Times (em Inglês):
Scientists Seek to Rein In Diagnoses of Cancer
Mixed Blessings
Redefining Cancer: The Breast-Condition Puzzle

Artigos Científicos (em Inglês):
Overdiagnosis and Overtreatment in Cancer - An Opportunity for Improvement
Screening for Lung Cancer: U.S. Preventive Services Task Force Recommendation Statement - DRAFT
Understanding Task Force Draft Recommendations



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